A Inteligência Artificial (IA) tem transformado a forma como as empresas contratam, especialmente nas etapas de triagem e seleção de currículos. Plataformas automatizadas, algoritmos de ranqueamento e entrevistas por vídeo com análise comportamental já fazem parte da rotina de muitos departamentos de recursos humanos.
Contudo, ao mesmo tempo em que essa tecnologia oferece eficiência e agilidade, também traz riscos jurídicos relevantes — especialmente no que se refere à discriminação, proteção de dados e responsabilidade trabalhista.
O que diz a legislação brasileira?
Embora o Brasil ainda não tenha uma regulamentação específica sobre o uso de IA no recrutamento, há normas e princípios legais que impõem limites claros às empresas, como:
- CLT (Art. 1º e seguintes) – Princípios da não discriminação e igualdade de oportunidades;
- Lei nº 9.029/95 – Veda práticas discriminatórias na contratação, como exigência de testes de gravidez ou esterilização;
- Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD – Lei nº 13.709/18) – Estabelece regras para o tratamento de dados pessoais, inclusive os utilizados em processos seletivos;
- Constituição Federal (Art. 5º, caput e inciso XLI) – Garante a igualdade e veda qualquer forma de discriminação.
Esses dispositivos, somados à crescente jurisprudência sobre direitos fundamentais nas relações de trabalho, exigem que as empresas adotem critérios objetivos, transparentes e auditáveis na utilização de sistemas automatizados para recrutamento.
Principais riscos jurídicos do uso de IA na seleção de candidatos
- Discriminação Algorítmica
Algoritmos treinados com dados enviesados podem reproduzir ou reforçar estereótipos, filtrando currículos com base em gênero, raça, idade ou local de residência, por exemplo. Isso pode gerar ações trabalhistas por discriminação na fase pré-contratual, inclusive com pedidos de indenização por danos morais. - Ausência de transparência
Candidatos têm o direito de saber quais critérios estão sendo utilizados para sua exclusão de um processo seletivo. A falta de transparência pode ser questionada judicialmente, sobretudo diante de seleções em larga escala feitas exclusivamente por IA. - Descumprimento da LGPD
Se o sistema de IA coleta, armazena ou compartilha dados pessoais dos candidatos sem base legal, consentimento claro ou política de privacidade adequada, a empresa pode sofrer sanções administrativas e até responsabilidade civil. - Responsabilidade solidária
Caso a empresa terceirize o processo seletivo a uma consultoria ou plataforma de recrutamento automatizada, a responsabilidade pelo tratamento inadequado de dados ou práticas discriminatórias pode recair também sobre o empregador contratante, especialmente se não houver contrato claro com cláusulas de compliance.
Boas práticas para o uso seguro da IA em processos seletivos
- Audite o algoritmo
Exija relatórios técnicos das plataformas que utilizam IA para comprovar que os critérios aplicados são objetivos e não discriminatórios. - Estabeleça filtros humanos
Evite processos 100% automatizados. A intervenção humana nas decisões finais reduz o risco de vieses e fortalece a defesa jurídica da empresa. - Atualize a política de privacidade
Garanta que os candidatos estejam cientes sobre o uso de dados no processo seletivo, conforme exigido pela LGPD. - Formalize contratos com fornecedores
Ao contratar plataformas ou consultorias que utilizem IA, insira cláusulas específicas sobre responsabilidade pelo tratamento de dados, prevenção de discriminação e fornecimento de auditorias. - Treine o RH e líderes
O uso consciente da tecnologia depende da capacitação dos profissionais envolvidos para interpretar dados, identificar riscos e agir em conformidade com a legislação trabalhista e de proteção de dados.
Conclusão
A tecnologia é uma aliada poderosa no recrutamento, mas seu uso exige responsabilidade, cautela e alinhamento jurídico. O uso indiscriminado ou mal estruturado de ferramentas de IA pode expor a empresa a passivos trabalhistas significativos, além de danos à imagem institucional.
Nosso escritório está preparado para assessorar sua empresa na revisão de práticas de recrutamento, estruturação de políticas internas e elaboração de contratos com fornecedores de tecnologia — sempre com foco na prevenção de riscos e conformidade legal.
Entre em contato e saiba como proteger sua empresa no uso de tecnologias inteligentes.